Era uma vez uma sombrinha III - O ataque da sombrinha assassina

8h da manhã:

Começava-se a ver o sol por detrás das arvores que davam alguma sombra à tenda. Era hora de levantar… só mais um minuto, só mais outro… mais um, só, por favor.

Pelo labirinto de tendas ouvia-se uma caneca a chiar. Era a dele. Mais nada se mexia naquela manhã. O silêncio só era interrompido aqui e ali por um ressonar ocasional vindo das tendas. Por entre as cordas e as paredes de pano ele movia-se audaz a caminho do trabalho.

9h da manhã:

Demasiado cedo para pensar direito ainda. “Mas onde foi que o fulaninho alto nos levou logo no primeiro dia?” pensava. Ele lembrava-se que tinha sido o primeiro sitio que viram, se calhar por isso mesmo que não se recordava já onde era.

Depois de uma volta ou duas ele lá chegou ao local, vazio. Só uma sombrinha abandonada jazia a um canto.

Sim, porque no reino dos mortos muitos jazigos esperavam as visitas das famílias que naquele dia iriam em torrente ao cemitério.

10h da manhã:

Sozinho no pequeno abrigo da sombrinha, já sem água nem comida, no limiar da loucura, ele cantava a música do seu homónimo no walkie talkie:

“Eu sou um rapazinho, embora pequenino, tenho muito tino sou o Ruca…”

11h da manhã:

A visão já estava turva, até os pássaros já pareciam cantar “Onde fica o Poço Azul?”. Maldito poço! Ele era o único que não via água, todos os outros pareciam ir na direcção dele. Mas independentemente de tudo, ele mantinha-se no seu posto.

Meio dia:

Os acontecimentos que se deram depois desta hora são confusos e difíceis de recordar. Há memória de outra sombra, uma que não perguntava pelo poço, andar por perto. Mas era sombra de pessoa ou a do guarda-sol? É difícil saber ao certo. Tudo o que se sabe é que no segundo seguinte a sombrinha ganhou vida! Num abrir e fechar de olhos fechou-se em cima do voluntário e levou-o não se sabe para onde. O voluntário nunca mais foi visto.

Alguns dizem que se formos ao poço azul ao meio dia, vemos o reflexo do voluntário na água, a assombrar quem nela se quer refrescar.